quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A legitimidade do ofício do historiador

Por Noé Gomes


Em tempos em que a informação toma uma velocidade  nunca antes imaginada, sinto que há na sociedade brasileira mas porque não mundial uma espécie de superficialidade nas relações. Como historiador vejo isso como uma consequência natural da ausência da meditação e reflexão. Mas você leitor pode me perguntar, mas este post é para falar de comportamento ou das atribuições do historiador? E por minha vez eu rebato: nós historiadores temos sempre o olhar acerca dos fenômenos em nossa volta. É até um pouco chato, mas um filme por exemplo, sempre tentamos muitos de nós, fazer uma relação com a História. Eu costumo dizer que me alimento, bebo, respiro e transpiro História. Parece que sem a História a minha visão de mundo fica incompleta.

Vivemos uma época de regulamentação da profissão do Historiador. O Projeto de Lei (PL 3579/2004) aprovado no Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados e que tem ínúmeros outros projetos que o antecederam e essa história já chega a meio século!

Esta luta é uma bandeira que jamais deve ser abandonada. Agora pergunto em que se justifica o oficio do historiador? A professora Kelia Grinberg¹. em seu artigo intitulado "Historiadores pra quê?" publicado na   Revista Ciência Hoje faz um paralelo entre a realidade dos EUA com a daqui do Brasil. Nas suas primeiras linhas conta que Anthony Grafton, presidente da Associação Americana de História, e Jim Grossman, diretor-executivo da entidade, escreveram o artigo “No more plan B”² em que defendem a ideia de que os historiadores devem rever a sua relação com a sociedade. Talvez antes mesmo da regulamentação, tenhamos que demonstrar a nossa importância aos que nos cercam.

Talvez tenhamos que espelhar em intelectuais do século passado como Betinho por exemplo. É necessário que saiamos para rua, que demonstremos a dimensão da infelicidade desta expressão "Quem vive de passado é museu!" Enganam-se aqueles que pensam que a História só enxerga o pretérito. Na verdade, o passado é a matéria prima para reflexões que estão ligadas à realidades que estão antes de nascermos como está naquela canção de Cazuza. 

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não pára, não, não pára

Se o tempo não pára, também jamais sessam as interpretações. Talvez os historiadores sejam um dos tantos embaixadores da cidadania, ao trazerem ao público a seguinte o entendimento de que o presente está interligado ao passado e o que os personagem do hoje são tão sujeitos históricos como que lhe antecederam. A professora Keila aponta como um caminho a valorização da carreira docente. Mas isto é algo que parece tão fora da realidade. Não a sua fala, mas as práticas dos governantes. Como fazer uma reflexão histórica em um mísero período? É  quase impossível em tão pouco tempo realizar estas reflexões. O que fica evidente é que somente as nossas lutas, resistências é que podem mudar este cenário. 

É preciso que exponhamos uma História intensa, com cores, imagens e principalmente uma história que toque os que nos cercam.

Links relacionados:

Letra da Música "O Tempo Não Pára" (Terra Letras) Disponível em: http://letras.mus.br/cazuza/45005/
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¹ Professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
² Tradução livre  "Não mais plano B"

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